Thursday 26 February 2015

Manifesto

Se magia é manifestar então escrever é seguramente um passo de mágica, e os que criam magos são, e, porque criar não é só escrever, suspeito que o mundo como o desconhecemos é sem dúvida um reino mágico.
Nós somos máquinas criadoras que trazem as fornalhas do universo a arder por dentro, e todos os momentos são lá forjados. Não somos mais do que isso, centelhas criativas, que em todos os instantes desdobram-se enchendo esta tela vazia chamada vida.
Às vezes reflicto na causa das minhas assombrações, das nuvens negras que pairam sobre a minha cabeça (se fosse só às vezes!!!) e não chego a lado nenhum, as nuvens só aumentam de tamanho, mas se em vez de passar tempo a ver televisão (a qual não vejo) ou mesmo até a ouvir música ou até a pensar nos porquês e criar algo imediatamente, não a pensar em criar mas agir logo sem esperar, não há melhor sensação no mundo do que ver algo a ganhar forma vindo dos reinos dos invisíveis, e ao fazê-lo sinto-me terreno, sinto que o vento já não me leva, sinto-me assente e firme, envolto pelo silêncio que cobre o universo, sinto-me abraçado e acarinhado pelo momento presente, na simplicidade de um acto encontramos a iluminação, a razão, o porquê, não é preciso muito, neste caso um portátil e electricidade, mas papel e caneta servem o mesmo propósito, e às vezes melhor por ser mais imediata a forma de conjurar palavras, não tão prático na hora de partilhar, infelizmente.
Pergunto-me por vezes se escrevo mesmo por necessidade ou por aprazer o meu ego com o reconhecimento de outrem, e eis que entra, nesta questão, a minha Carta Astrológica: Eu tenho 4 planetas na casa número 6 ( Sol, Lua, Mercúrio, Urano), sendo esta casa a de serviço ao mundo, e quem tem muitos planetas nesta casa geralmente tem problemas em vincar no mundo, deixam-se ficar para trás, escondem-se da luz da ribalta, e só fazem algo se sentirem que deveras é útil o serviço prestado, e como é que se sabe que o que se faz é útil? Quando reconhecimento é demonstrado. Há, deveras, uma grande lição a aprender, e este texto foi construído com base nessa lição que é a de pôr o pensar de lado a descansar num canto escuro, e simplesmente criar.

Escrito por um mago
da classe das letras
que por entre as gretas,
do véu que nos separa
e que nos prende à samsara,
espreme seus finos dedos
e rouba os segredos
ao outro lado.




Thursday 12 February 2015

Danço

Estou com calor, estou sobre aquecido, rosno baixinho comigo mesmo, ralho bato espanco cuspo e mijo na cara de meu ser, limpo o sangue das minhas mãos com uma toalha branca e atiro-a para o lixo onde deveras pertence este meu plasma, lixo cármico, paleta de sombras, vinho velho e amargo, veneno acido das eras, mar vago.
Há uma neblina que paira na noite enferrujada desta cidade à beira rio, e as estrelas agitam-nos la por tras do neon mostarda alaranjado.
Danço sozinho no escuro, interpretando a equação infinita.
E no fundo nunca se é só, ou se está só, quando se faz parte de um todo.
É-me impossível ver um futuro, estou preso numa caixa por mim construída, sou escravo e amo ao mesmo tempo, vivendo à beira de um precipício com medo de saltar e voar. E se deveras voo mesmo?! Voarei só, ou pior ainda, inspirarei um voo conjunto? 
Já sei quem falou, ego meu amigo, o único que teme o fim. Voar não é o fim, mas sim o que sempre foi e será.