Sunday 12 April 2015

Sem corda

Vivo entre a espada e a parede, num drama que não é o meu, vivo dramas alheios, porque não sei viver o meu, ou talvez recuso-me a vive-lo. O mundo torna-se cada vez mais oco e desprovido de sentido.
Quando era pequeno, um dia prometi a mim próprio que nunca iria sofrer e que ficaria sempre com a cabeça à tona das águas do drama, o que implicou nunca ter nadado para muito longe nem ter mergulhado muito fundo, e ficado sempre até onde tive pé. As aventuras sociais nunca foram o meu prato forte, sinto-me completamente perdido nesses protocolos, conversar e agir como quem negoceia o trânsito no centro de uma grande metrópole, em festas o meu lado favorito é sempre o lado de fora, onde se pode respirar à vontade. Anti-social será uma palavra um pouco forte demais, digamos que fui construído para outros fins. Vim à terra para estudar, observar, fazer o relatório e levá-lo de volta, como um espião na sombra. Amo a humanidade mas à distância, bebo-a em muito pequenas doses. A minha coisa favorita neste mundo confuso é sentar-me numa esplanada ao sol e simplesmente observar a vida a correr, não há mais bela paisagem do que o decorrer do quotidiano. Adoro o som duma casa em silêncio logo a seguir a uma grande festa, adoro o som duma festa a ecoar à distância na noite.
Vivo desligado, de corpo presente e de mente ausente, não sou destas paragens, estou de passagem, não quero ficar mais do que o necessário. Adoro sentir o silêncio que me habita, adoro entrar nesse espaço imenso e escuro e ficar lá a flutuar sem corda.

1 comment:

  1. Não vou dizer que você disse o que eu diria. Por quê? Porque já eu disse o mesmo com outras palavras. Enfim, sou Forasteiro e Peregrino, aqui. E como você diz muito bem, "...em festas o meu lado favorito é sempre o lado de fora...".
    Um grande e forte abraço, Jorge!

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